- Leonor? – Chamou-me o Jorge Jesus.
- Sim?
- Estava a perguntar se não querias assistir ao
treino que assim ia falando contigo sobre a tua função. – A minha vontade era
de dizer imediatamente que não, mas estava a trabalhar e tinha de ser
profissional.
- Claro que sim. – O Jorge, sim porque toda a
equipa técnica acordou que como íamos trabalhar juntos tratávamos todos por tu,
sorriu e começamos a caminhar em direcção ao relvado.
Quando lá chegamos os jogadores já corriam
juntamente com o treinador adjunto. Olhei-o. Estava com uma cara de chateado,
alias furioso mas ele ainda não se tinha apercebido que eu me encontrava
naquele espaço.
Encaminhei-me juntamente com o Jorge para o
banco de suplentes onde permanecemos a falar até os jogadores acabarem a
corrida. Assim que isso aconteceu eles dirigiram-se para a nossa beira.
O Ruben vinha com a cabeça para baixo e não me
viu. Eles sentaram-se a nossa frente e o Jorge falou:
- Apesar de estarmos a iniciar a pré-época não quero
que isso seja motivo para vos ver menos esforçados ou dedicados. Como sabem, partiremos amanha para a Suíça por isso não se
atrasem. A Leonor vai vos dar uma palavra. – Assim que o Jorge disse o meu nome
o Ruben levantou a cabeça e olhou-me. Sim, ele estava furioso, admirado mas
acima de tudo desiludido.
- Bem, é o seguinte já que vamos trabalhar
juntos acho por bem vocês me conhecerem um bocadinho pois vão ter de se sentir confortáveis
ao falar comigo. Eu vou começar e depois se alguém tiver alguma pergunta pode
coloca-la. Chamo-me Leonor Filipa Soares Andrade, tenho 19 anos, nasci em
Lisboa mas vivi os últimos 2 anos em Braga. A minha função dentro deste clube é
ser o vosso elo de ligação com a direcção e com a imprensa. Entrevistas que vocês
dêem, presenças que façam, comunicados que queiram apresentar ou desmentidos
que queiram fazer tem de passar por mim e até mesmo noticias ligadas ou não ao
futebol que saiam e que se sintam desconfortáveis tem de me comunicar. Tirando
isto, serei também uma pessoa que vos vai ajudar a ultrapassar as dificuldades
que encontrem aqui dentro desta instituição. Quero que saibam que estarei
sempre ao vosso dispor para aquilo que precisarem e não quero que haja
formalismo, eu vou vos tratar por tu apesar de a maioria de vocês ser mais
velho que eu e apesar do meu cargo aqui dentro quero que vocês também me tratem
por tu. Alguma pergunta?
- Porque foste os últimos 2 anos para Braga? –
Perguntou o Nelson Oliveira.
- Isso é do foro pessoal, não sejam metediços. –
Disse o Jorge. Apesar de não querer falar nesse assunto e por esse mesmo
assunto mexer muito comigo disse-lhes que podiam fazer as perguntas que
quisessem e além disso não quero que fiquem logo com má impressão no meu
primeiro dia de trabalho.
- Não tem problema nenhum Jorge, eu respondo. Eu
fui para Braga por motivos profissionais, fui tirar o curso para hoje poder
exercer este cargo. – Falei sorrindo. Em parte não era mentira, mas o
verdadeiro motivo não era esse.
- E será que poderemos confiar em ti? – Gelei ao
ouvir aquela voz rouca mas ao mesmo tempo doce.
Olhei-o, não iria dar parte fraca, iria manter a
postura, a postura de indiferença para com aquele ser com que em tempos fui
feliz.
- Confiança é uma coisa que se conquista ao
longo do tempo e tem de ser mútua, por isso, se eu puder confiar e contar com vocês,
também vocês poderão confiar e contar comigo. Acho que está tudo esclarecido
por isso, se o mister concordar, já podem ir embora. – Não ia dar tempo para
mais perguntas. Conhecia-o bem de mais para saber que se deixasse não iria
parar por ali e assim continuar até me fazer vacilar e admitir a verdade.
- Sim,
podem ir, amanha não se atrasem.
Os jogadores começaram a ir para os balneários.
Desviei o olhar para a a minha mala fazendo que procurava as chaves do carro, não
o queria olhar novamente, sabia que não iria aguentar.
Depois de todos saírem despedi-me da equipa
técnica e fui para casa. Tinha de fazer a mala para amanha seguir com a equipa
para a Suiça. Tinha sido uma imposição do Jorge, afirmou que seria benéfico
pois ia conhece-los melhor e além do mais ia ser precisa para acompanhar as conferências
de imprensa e para fazer os comunicados.
Quando me sentei na minha cama com a mala aberta
comecei a pensar como ia ser passar as próximas duas semanas ao lado do homem
que em tempos amei e que já não via á quase 2 anos.