Quando Catarina ouve Marisa, percebe que fora um erro ter ido ali, fora um
erro pensar que podia ser aceite na equipa. É óbvio que elas não a iriam querer
lá, Catarina sabe que errou ao abandonar a sua equipa num momento em que elas
mais precisavam dela. Mas aquilo que se passou naquele dia foi o despoletar do
gatilho nela e Catarina sentiu-se incapaz de contrapor contra os seus próprios
argumentos
Se ela própria ainda não se tinha perdoado por as ter abandonado, como
poderia pedir que elas a perdoassem? Era demasiado.
Javi mantinha-se atrás da porta. Decidira não entrar com Catarina. Para
além achar que ela devia fazer aquilo sozinha, também achava que Catarina tinha
muitos segredos que ele desconhecia … demasiados segredos.
Ele queria ajuda-la … de uma certa maneira sentia-se ligado a ela. Mas
Javi tentou. Ninguém o podia acusar de não ter tentado. Mesmo depois de
Catarina o desprezar vezes e vezes sem conta, ele não desistiu. E quando,
finalmente, começa a acreditar que aquilo tudo por que passou valeu a pena, eis
que descobre que afinal Catarina tinha ainda mais segredos. Quantos mais
segredos haverão por descobrir? Que coisas mais esconderá Catarina ? Estas
dúvidas atordoavam a cabeça de Javi juntamente com o pasmamento perante o seu
patrão ser avô de Catarina.
Ele decidiu deixar Catarina fazer as coisas à sua maneira, fazer as coisas
sozinha. Decidiu não se meter mais. Abanou a cabeça como que afastando todos os
pensamento que por lá pairavam, olhou uma última vez para Catarina e foi
embora.
Javi não percebia a razão de se sentir triste por ir embora, por deixar
Catarina. Afinal, ele só a conhecia á algumas semanas! Era nisso que Javi
queria acreditar, mas o que ele não sabia nem imaginava, era que, no seu coração
, Catarina começava a ganhar espaço, um espaço cada vez maior e mais
importante. Sem saber, Javi estava a apaixonar-se por Catarina.
Por seu lado, Catarina encontrava-se de frente para a sua antiga equipa e
resolve arriscar. Ela tinha de tentar … ela precisava… o voleibol era algo
demasiado importante para perder mais uma vez.
- Eu sei que não vos devia, nem podia ter deixado na véspera da final da
taça. Eu sei que vocês tem todas as razões e mais algumas para não me quererem
ver á frente, eu magoei-vos, mas acima de tudo sei bem o quando vos desiludi. –
Catarina fazia um esforço enorme para segurar as lágrimas. As suas companheiras
estavam atentas ao que ela dizia, na verdade, todas elas queriam que a Catarina
voltasse mas sentiam-se demasiado magoadas para a aceitarem assim tão
facilmente. – Acreditem, acreditem quando vos digo que eu ainda hoje não me
perdoou pelo que vos fiz. Não me perdoou por vos ter deixado, mas caramba,
vocês melhor que ninguém sabem o que o voleibol representa na minha vida, sabem
bem que não me teria ido embora se não fosse mesmo mesmo necessário. – Ela
suspirou como que ganhando forças para continuar. – Pedir-vos desculpa é pouco,
muito pouco mas é o que neste momento posso fazer. Posso pedir-vos desculpa e
pedir-vos que me deixem tentar voltar a dar tudo pelo voleibol, não me vou
desapontar outra vez.
- Não me … - Marisa ia falar mas Catarina interrompeu-a.
- Não falem, não hoje. Falem, falem entre todas. Sempre fomos uma equipa e
sempre tomamos as decisão juntas, por isso é que tínhamos tanto sucesso, eramos
unidas. Amanha, eu volto cá, e aceitarei a decisão que tomarem. – Catarina
sorri e vira costas saindo do estádio.
Parou num jardim que havia entre o estádio e a sua casa. Sentou-se e foi
aí que se começou a aperceber da realidade. Javi tinha ido embora… ele tinha
desistido dela. Mas ela poderia culpa-lo? Não, não podia. Ela era cheia de
problemas, era uma mulher confusa, estranha mesmo. Não o podia culpar por
finalmente se aperceber disso.
Mas ela tinha de agradecer a Javi, agradecer por a ter levado ali, àquele
treino, naquele dia. Ele deu-lhe o “empurram” que lhe faltava para ela seguir
com a sua vida, conquistar de novo a vida que tinha, mas isso não incluía a sua
família. Incluía voltar a jogar volei, incluía voltar a cantar e a tocar piano
e concorrer de novo ao conservatório e acima de tudo incluía voltar a escrever
os seus poemas.
Catarina olhou para o lado e viu um velhinho lá sentado, parecia que ele
vivia naquele banco de jardim, pois tinha cobertores e uma pequena mochila com
ele. Ela levanta-se e vai-se sentar ao seu lado. Conversa com ele, uma pessoa
tão sábia e tão carinhosa que ela não conseguia entender como ele era capaz de
viver na rua. Ele despede-se dela e diz que tem de procurar um sitio para
dormir. Catarina tenta ajuda-lo, dar-lhe dinheiro ou leva-lo a uma pensão, mas
ele rejeita dizendo para ela se preocupar em conquistar a sua própria
felicidade.
Ela ficou marcada com aquela conversa. Como é que ele sabia que ela estava
a tentar ser feliz novamente? Pegou num bloco de folhas que tinha consigo,
pegou numa caneta e deixou fluir. Sim, ela de facto estava a tentar …
Passo pelo jardim
E vejo um velho, num banco sentado
Está com ar abatido
Parece tão cansado
É triste,
Que assim tenha de ser
Uma pessoa com idade
Sem ninguém a acolher
Abandonado pela família
Abandonado pelo mundo
Abandonado por Deus
Bateu mesmo no fundo
Sento-me ao seu lado
E começo a conversar
Pessoa tão simpática
E com tanto para ensinar
Pela vida,
Por tanto já passou
Muito aprendeu
Mas muito ensinou
Fala da família
Com os olhos a brilhar
Apesar do abandono
Continua a muito os amar
Nunca os esqueceu
Nem nunca os vai esquecer
Diz que falta pouco
Para falecer
Digo-lhe que é mentira
E para nisso não pensar
Dá-me a sua mão
E começa a falar
"Nunca te esqueças
Que a vida é para viver
O mundo para sentir
E a família nunca esquecer
Tens de ser feliz
A todos ajudar
Não fiques triste
De ti, para sempre, me vou lembrar"
Larga a minha mão
E no banco se deita
Sorri feliz
E os seus olhos fecha
Os olhos são fechados
Para nunca mais os abrir
Pus a mão no seu coração
E deixei de o sentir
É triste
Que assim tenha de ser
Uma pessoa de idade
Sozinha, acaba de morrer
Tantas pessoas
Chegam assim ao fim
Tantas como este velho
Sentado no banco do jardim
E vejo um velho, num banco sentado
Está com ar abatido
Parece tão cansado
É triste,
Que assim tenha de ser
Uma pessoa com idade
Sem ninguém a acolher
Abandonado pela família
Abandonado pelo mundo
Abandonado por Deus
Bateu mesmo no fundo
Sento-me ao seu lado
E começo a conversar
Pessoa tão simpática
E com tanto para ensinar
Pela vida,
Por tanto já passou
Muito aprendeu
Mas muito ensinou
Fala da família
Com os olhos a brilhar
Apesar do abandono
Continua a muito os amar
Nunca os esqueceu
Nem nunca os vai esquecer
Diz que falta pouco
Para falecer
Digo-lhe que é mentira
E para nisso não pensar
Dá-me a sua mão
E começa a falar
"Nunca te esqueças
Que a vida é para viver
O mundo para sentir
E a família nunca esquecer
Tens de ser feliz
A todos ajudar
Não fiques triste
De ti, para sempre, me vou lembrar"
Larga a minha mão
E no banco se deita
Sorri feliz
E os seus olhos fecha
Os olhos são fechados
Para nunca mais os abrir
Pus a mão no seu coração
E deixei de o sentir
É triste
Que assim tenha de ser
Uma pessoa de idade
Sozinha, acaba de morrer
Tantas pessoas
Chegam assim ao fim
Tantas como este velho
Sentado no banco do jardim
Assim que acabou de escrever o poema Catarina sorri, era um passo que
tinha dado. Coloca tudo de novo dentro da carteira e vai para casa.
------ # ------
Leonor estava na sala com o Gonçalo a conversar quando tocam a campainha.
Ela levanta-se e vai abrir a porta.
- Sofia? O que estás aqui a fazer? – A segunda parte da pergunta foi dita
com os olhos meios no Rúben, que se encontrava ao lado da Sofia.
- Vim visitar a minha irmã e os meus sobrinhos.
- Entra então. – Ela e o Rúben entraram e Leonor recuou a saber se iria
seguir com a sua ideia para a frente ou não. Rúben e Sofia estavam de mãos
dadas, estavam felizes, ou pelo menos assim parecia por isso Leonor decidiu
seguir com a sua ideia para a frente.
Chegou a sala e viu todos de pé á espera que ela os apresentasse. Quando
se aproximou, Rúben olhou-a de lado, tentando esconder os ciúmes do que
suspeitava.
- Rúben, Sofia este é o Gonçalo, o meu namorado e pai dos meus filhos. –
Olhou Gonçalo. – Eles são a Sofia, minha irmã, e o Rúben. – Quando disse a
palavra “ Rúben” , Leonor arregalou os olhos a Gonçalo para ele entender quem
era ele.
- O meu namorado. – Concluiu Sofia.
Gonçalo cumprimentou Sofia e Rúben, apesar de este último o ter feio quase
como que obrigação.
Leonor e Rúben olhavam-se. Leonor por seu lado sentia-se triste por saber
que fora ela que escolhera ser assim, fora ela que desistira de Rúben uma vez
mais. Já Rúben, olhava Leonor com desprezo, não percebendo como pode ela
fazer-lhe aquilo de novo, como pode ela desistir do amor que ambos sentiam,
como pode ela … desistir.
E ficaram assim os quatro naquela sala, Gonçalo e Sofia falavam
alegremente, já Leonor e Rúben olhavam de esquina um para o outro, pensando
como pode ser a vida tão insano num amor como o deles.
------- # -------
- Amas-me? – questionou Sofia.
- Não percebi.
- Não vou namorar contigo se não me
amares, não sou um brinquedo Rúben. – Sofia respirou. – Vou voltar a perguntar
…
- Sofia … - tentou intervir Rúben
mas em efeito.
- Amas-me? – Rúben não sabia o que
lhe responder. Não, ele não a amava, mas ele disse que iam tentar construir uma
família, e isso, isso implicava amor.
- Não te amo da maneira que tu me
amas a mim, mas eu estou a tentar, estou a tentar amar-te como me amas, estou a
tentar construir uma família, estou a tentar que isto resulte. Eu sei que vou
conseguir, apenas … apenas tem um pouco de paciência comigo. – Sofia sorriu e
aconchegou-se nos braços de Rúben.
Sofia pensava que ele de facto
estava a tentar e queria acreditar que ele ainda a iria amar, um dia. Rúben,
simplesmente queria tirar Leonor da cabeça, pois ela tinha desistido pela
segunda vez. E, segundo Rúben, o amor não merece terceira oportunidade. Ele só
estava enganado numa coisa, não se pode forçar o amor, ele acontece sem querermos,
ele atraiçoa-nos, ele escolhe quem nós muitas vezes não queremos, ele escolhe
muitas vezes quem não nos merece, mas nada podemos fazer contra isso, são
forças que não dependem do nosso controlo, nós não escolhemos quem amamos,
simplesmente … ama-se.
----- # -----
Estavam já a conversar há algum tempo ( basicamente só Sofia e Gonçalo
falavam ) quando Rúben pede para ir á casa de banho. Leonor indica-lhe o
caminho. Fora a primeira vez naquela tarde que falaram um com o outro.
Rúben estava já a demorar imenso tempo quando Sofia pede a Leonor para ir
ver se estava tudo bem.
A muito custo, Leonor vai até á casa de banho mas repara que a porta está
aberta e a luz apagada. Ouve gargalhadas do quarto dos meninos e estranha, pois
eles ainda deviam de estar a dormir.
Ela aproxima-se e deixa-se estar na ombreira da porta a observar. Rúben
brincava com Tomás e Filipa. Riam, faziam cócegas e rebolavam no chão. Pareciam
pai e filho … e de facto era isso que eles eram.
Filipa olha para a porta e repara na mãe, correndo na sua direção e
captando a atenção dos outros dois que ali estavam.
Leonor pega na sua pequenina no colo e esta surpreende-a com uma pergunta.
- Mãe, o Rúben pode ser o nosso pai? – Leonor olha Rúben e tenta controlar
as lágrimas que lhes viam aos olhos. Catarina estava certa, Rúben amava os
meninos e eles amavam-no, e Leonor, estava a privar pai e filhos da sua relação. Mas o engraçado,
é que mesmo sem saber deste laço que os unia, eles lá no fundo, sentiam-no,
pois mesmo conhecendo-se à pouco tempo, eles … realmente amavam-se.
------- # --------
No caminho para casa, Catarina passa pelo meio de um jardim, já perto de
sua casa e repara num piano que lá está. Ao inicio fica confusa, pois haver um
piano num jardim publico não era normal, no entanto depois lembra-se de já ter
ouvido nas noticias essa iniciativa. Consistia em espalhar instrumentos em
zonas recatadas de jardins lisboetas para proporcionar ás pessoas um melhor
contacto com a música e a juntar a isso o ar livre.
Catarina, já não se lembrava da última vez que tocara num piano e por isso
o seu interior fala mais alto e ela precipita-se para ele. Senta-se, e os seus
dedos começam a tremer. Podia já tocar á imensos anos, mas teria sempre essa
sensação. Coloca o seu dedo indicador direito sobre uma tecla e pressiona.
Ela estremeceu.
O efeito que a música tinha nela era algo avassalador, algo inexplicável.
Rapidamente os restantes dos seus dedos ganham vida e começam a tocar uma
música que ela tão bem conhecia e que tanto significado tinha para ela.
Rapidamente a sua voz se juntou aos seus dedos e assim fazia ela aquilo
que a fazia feliz e a deixava serena : cantava e tocava piano.
Eu
quero a sorte de um cartoon
Nas manhãs da RTP1
És o meu Tom Sawyer
E o meu Huckleberry Finn
E vens de mascarilha e espadachim
Lá em cima, há planetas sem fim
Tu és o meu super-herói
Sem tirar o chapéu de Cowboy
Com o teu galeão e uma garrafa de rum
Eu era tua e de mais nenhum
Um por todos e todos por um
Nas manhãs da RTP1
És o meu Tom Sawyer
E o meu Huckleberry Finn
E vens de mascarilha e espadachim
Lá em cima, há planetas sem fim
Tu és o meu super-herói
Sem tirar o chapéu de Cowboy
Com o teu galeão e uma garrafa de rum
Eu era tua e de mais nenhum
Um por todos e todos por um
Nos
desenhos animados
Eu já conheço o fim
O bem abre caminho
A golpe de espadachim
E o príncipe encantado
Volta sempre para mim
Eu já conheço o fim
O bem abre caminho
A golpe de espadachim
E o príncipe encantado
Volta sempre para mim
Eu
sou a Jane e tu Tarzan
A Julieta do meu Dartagnan
Se o teu cavalo falasse
Tinha tanto para contar
Há fantasmas debaixo dos meus lençóis
Dos tesouros que escondemos dos espanhóis
A Julieta do meu Dartagnan
Se o teu cavalo falasse
Tinha tanto para contar
Há fantasmas debaixo dos meus lençóis
Dos tesouros que escondemos dos espanhóis
Nos
desenhos animados
Eu já conheço o fim
O bem abre caminho
A golpe de espadachim
E o príncipe encantado
Volta sempre para mim
Eu já conheço o fim
O bem abre caminho
A golpe de espadachim
E o príncipe encantado
Volta sempre para mim
Quando
chegar o final
Já podemos mudar de canal
Nos desenhos animados
É raro chover
E nunca, quase nunca acaba mal.
Já podemos mudar de canal
Nos desenhos animados
É raro chover
E nunca, quase nunca acaba mal.
Assim que a música acabou, uma
lágrima lhe escorreu pelo rosto. Aquilo era mágico para Catarina. Mas ela
rapidamente a limpou pois ouviu alguém falar.
- Parabéns. Tens uma voz magnífica e
tocas lindamente. Fiquei maravilhado ao ouvir-te. – Catarina estremeceu com a
voz e assim que se vira para trás e vê quem fala com ela fica paralisada.
✓ Quem será que fui a pessoa que ouviu Catarina?
✓ irá a equipa aceita-la de novo? Se sim, irá o seu avô, como patrão concordar?
✓ Sofia- Rúben, será para durar? Ou Rúben irá perceber que não se escolhe quem ama?
✓ Com o que lhe disse Filipa, irá finalmente Leonor ceder e contar a verdade?
✓ E Javi, onde andará ele?
Peço imensa desculpa pela demora em publicar, mas tenho estado com alguns problemas de saúde que me têm obrigado a passar algum tempo no hospital.
Contudo, aqui está o capitulo. Não está como eu gostaria mas nao queria estar mais tempo sem postar.
Aconselho mesmo a ouvir a música, vale mesmo a pena.
Espero que gostem do poema, fui eu que escrevi e é um dos meus preferidos.
Depois de lerem deixem a vossa opinião, mesmo que não tenham gostado pois ela é realmente muito importante, quem também escreve percebe o que estou a dizer. Por isso, estou a aguardar ansiosamente as vossas opiniões (;
Depois de lerem deixem a vossa opinião, mesmo que não tenham gostado pois ela é realmente muito importante, quem também escreve percebe o que estou a dizer. Por isso, estou a aguardar ansiosamente as vossas opiniões (;
Beijinhos
Nii'i ♥