domingo, 17 de fevereiro de 2013

Enlaces do Passado - 17º Capitulo - " ... és o pai dos meus filhos ... "






            Catarina acordou lentamente. Olhou à sua volta e percebeu que estava na sua cama. Perguntava-se como tinha ido lá parar. A última coisa que se lembrava era de estar a discutir com Javi e de ter visto tudo a desfocar-se à sua volta.

            Com algum custo levantou-se. Sentia-se fraca. Com tonturas. Caminhou por entre os corredores da casa e um silêncio enorme a abrangia. Ao passar pela cozinha olhou para o relógio vermelho que a parece do fundo albergava. 3h 45 min era o que marcava. Era tarde, tardíssimo. Catarina pensou nos meninos e foi de imediato ao quarto de cada um. Primeiro ao quarto de Filipa, dormia serenamente na sua cama. De seguida foi ao quarto de Tomás e deparou-se com o mesmo cenário. Voltou à cozinha e reparou nos casacos que lá estavam. Aí lembrou-se que Mauro e Ana estavam lá em casa a dormir no quarto de hóspedes a tomar conta dos meninos.

            Catarina preparava-se para voltar de novo para o seu quarto quando reparou numa pequena luz de presença acesa na sala e caminhou até lá. No sofá encontrava Javi, com o corpo todo torto e com um semblante pesado. Perguntas… imensas perguntas surgiam na cabeça de Catarina. No entanto, essas perguntas teriam de ficar para outra altura. Ela decidira não acordar Javi para lhe fazer perguntas, ele parecia cansado, assustado até. Caminhou até ao outro sofá e pegou numa manta que lá estava. Cobri-o. Passou-lhe a mão pelo cabelo, sorriu e foi para o jardim. Sentou-se ao pé da piscina com os pés dentro de água. Estava frio, é verdade, mas Catarina já se sentia tolerante a (quase) todo o tipo de dor e desconforto.

            Ela não entendia como Javi mexia assim com ela, não entendia como as palavras que ele lhe dissera “E tu, tu que tens montes de gente a querer te ajudar quando ainda é tempo, ignoras todas a gente e não assumes que precisas de ajuda, que ÉS DOENTE.” não  lhe saiam da cabeça. Teria ele razão? Não… não podia. Ela não se considerava doente. A menos que … ser feia fosse uma doença. Era assim que Catarina pensava, era assim que ela encarava a vida.

            - Posso me sentar ao teu lado? – Catarina estremeceu com aquela voz.

            - Claro. – Respondeu sem nunca o olhar. Javi seguiu-lhe o exemplo mas rapidamente se arrependeu . – Está gelada! – Constatou Javi.

            - Eu sei, mas eu gosto. Faz-me bem.

            - Já alguém te disse que és masoquista? – Sim, já lhe haviam dito contudo não nas melhores razões.

            - Eu não me quero chatear nem quero discutir, estás mal podes sempre mudar-te. – Fria. Mais uma vez Catarina tinha sido fria para ele. Javi não entendia porque ela o tratava assim, porque a ele? De facto, nem Catarina sabia porque o tratava assim. Simplesmente sempre que estava perante a sua presença Catarina deixava de comandar as suas acções  não pensava, simplesmente ripostava. E ela odiava não ter puder nas suas acções.

            - Porque és sempre assim? – Questionou Javi passando-lhe a mão pela cara. Repentinamente Catarina levantou-se e afastou-se.

            - Assim como? – Javi repetiu-lhe o gesto. Tentou aproximar-se mas ela voltou a afastar-se.

            - Assim … fria.

            - Porque foi assim que a vida me obrigou a ser. – Dito isto, saiu do jardim e foi para o quarto sem dar tempo a Javi de responder.


( … )


            Passavam das 14 h quando Catarina acordou. Foi até à cozinha e leu um pequeno bilhete da Ana a dizer que ia até ao parque com o Mauro e os meninos. Foi até à sala e nem sinais do Javi. Resolveu não pensar nisso … não pensar nele. Catarina acha que não podia nem devia pensar em homens, nem por um momento que fosse.

            Voltou ao quarto , tomou um banho e vestiu-se. Foi para a sala e sentou-se no sofá. Não almoçou. Não sentia fome , nunca sentia, mas desta vez era diferente. Catarina sentia-se inquieta. As palavras de Javi não lhe saiam da cabeça e ela não sabia o que pensar. Estaria aqui o inicio da mudança da “doença” de Catarina?




(...)

            Catarina estava há já vários minutos no sofá quando sentiu a porta de casa a abrir e passado poucos segundo viu Leonor a entrar na sala completamente lavada em lágrimas. Ela já havia falado com Leonor naquele dia e parecera-lhe bastante feliz, ficou confusa sobre o estado lastimável dela agora mas mesmo assim levantou-se de repente e foi ao encontro da sua melhor amiga, abraçando-a.

            - Nô, que se passou? – Leonor nada lhe respondeu, apenas se sentou no sofá e aconchegou-se mais nos braços daquela pessoa que sabia que nunca a abandonaria.

            Passados alguns largos minutos, Leonor decide falar e explicar o que se tinha passado horas antes em casa de Rúben.

            - Lembras-te de eu te ter ligado à bocado e estar tudo bem? – Catarina assentiu com a cabeça não só a confirmar saber a que Leonor se referia, mas também para mostrar que estava ali para o que a sua melhor amiga precisasse. – Pronto, e estava! Eu e o Rúben estávamos bem, estávamos … felizes.

            - Então o que pode ter acontecido de um momento para o outro para estragar isso? – Interrompeu Catarina mostrando a sua dúvida, estando ela alheia a tudo o que se havia passado.

            - Calma. – Leonor falava entre soluços. Já desistira de tentar parar de chorar, era algo inevitável. – E lembras-te de te falar que tenho uma irmã mais velha que eu? A Sofia?

            - Sim, em Braga costumavas falar do quanto tinhas saudades dela, o quanto ela era bonita, sim lembro, mas o que tem a tua irmã haver com o Rúben?

            - Tem tudo. Eles … acho que namoraram, - Catarina tapou a boca que se abriu de imediato mostrando assim o seu pasmo perante tal afirmação. – o pior nem é isso, o pior é que a Sofia engravidou dele.

            - O QUÊ?!

            - Pois, percebes agora o que se passou? – Leonor chorava mais e mais, quando pensava que não tinha mais água para brotar nos seus olhos, eis que surge um rio invisível e as lágrimas caiem abundantemente.

            - Não, não percebo, - Afirma Catarina deixando Leonor boquiaberta. Como era possível não perceber? Na perspetiva de Leonor era óbvio a decisão que havia tomado. – Caramba, a tua irmã até pode ir ter um filho do Rúben, tu até podes ter ficado abalada com essa situação, até aí eu entendo. O que não entendo é teres desistido do HOMEM DA TUA VIDA, sim, que nunca amas-te mais nenhum e posso por as minhas mãos no fogo como nunca amarás mais nenhum, quando também tens dois filhos dele. Vai lá, vai lá a casa e diz que não queres desistir dele, diz-lhe que a Filipa e o Tomás são filhos dele. – Catarina agarra nos braços da sua melhor amiga e fá-la olha-la nos olhos – Quando vais lutar pela tua felicidade? Um dia, quando os teus filhos forem grandes vão te deixar quando descobrirem que o pai dele é alguém que eles gostam e que tu lhes ocultas-te isso, o Rúben vai estar com a tua irmã ou com outra qualquer, sim, que por muito que ele te ame já o deixas-te duas vezes , duvido muito que ele continue a tentar durante muito mais tempo ainda pior se descobrir por outros que é o pai dos meninos. Aí Leonor, aí vais perceber que é tarde de mais e que devias ter começado a lutar pela tua felicidade.

            - Queres que chegue ao pé dele e diga : “ És o pai dos meus filhos… “. Achas que as coisas são assim? – Leonor parou para poder respirar. – Ele vai ser pai do filho da Sofia. Catarina, eu sei o que é não ter os pais dos nossos filhos presente, sei o que é fazer de pai e mãe ao mesmo tempo, sei o que é ter os nossos filhos a perguntarem pelo pai e não termos uma resposta para dar… eu não quero nem vou privar a minha irmã de ter o Rúben ao lado dela, sim, que eu sei que se eu contar a verdade tanto o Rúben como a Sofia acabam com a relação deles. Deixa-os ser felizes…

            - Deixa-os ser aquilo que tu não foste não é? – Afirmou Catarina interrompendo Leonor. Esta não respondeu, aliás, não tinha nada com que argumentar, não tinha maneira de negar algo que era tão óbvio.

            Continuaram as duas no sofá mas sem voltar a tocar mais neste assunto. Catarina tinha percebido que Leonor estava decidida e que não haviam maneira de a fazer mudar de opinião.

            Ao fim da tarde, o Mauro e a Catarina trouxeram os meninos a casa, apesar de perceberem que ela não estava bem, decidiram não tocar nesse assunto pois Mauro iria falar com Rúben, decerto que teria haver com ele.


(…)


            Mais uma quarta-feira começava e Leonor tinha de se levantar e ir trabalhar.  Uma semana se tinha passado desde que decidira terminar com Rúben. Nunca mais o tinha visto, nem a ele nem a Sofia, mas hoje iria almoçar com a Sua irmã, enquanto que Rúben iria almoçar com Mauro.

            Tomás e Filipa já por diversas vezes tinham perguntado à mãe o que se passava, pois ela andava triste, no entanto, Leonor desculpava-se com o cansaço. Os meninos faziam anos no próximo sábado e já andavam a pensar na sua festa de aniversário. Faziam 3 aninhos.

            Leonor vestiu-se, vestiu os meninos e saiu enquanto Catarina lhes ficava a dar o pequeno-almoço.






            Hoje trabalhava no estádio, como tinha acontecido na última semana ( o que Leonor agradecia pois assim não se cruzava com Rúben ). A manhã passou num ápice, entre reuniões e preenchimento de papelada e falar com impressa chegou a hora de almoçar.

            Dirigiu-se para um restaurante no parque das nações onde se encontrava Sofia. Assim que lá chegou a sua irmã veio logo ao seu encontro, abraçando-a.

            - Que saudades Nô, no outro dia nem tivemos tempo de falar em condições. – Leonor obrigou-se a si mesma a sorrir. Afinal, ela amava a sua irmã.

            - Também tinha saudades tuas Sofia. – Sentaram-se e fizeram os pedidos. Leonor reparou na barriga da sua irmã. Notava-se. Pouco é verdade, mas para além de Sofia ser uma rapariga muito magra também estava a usar um vestido muito justo o que salientava a sua recente gravidez.

            Os pratos chegaram e elas falavam de coisas banais até que Sofia fala nos pais.

            - Eles tem muitas saudades tuas Leonor.

            - Se eles tivessem saudades minhas tinham me ligado durante estes três anos, e eles não fizeram isso nem uma vez.

            - Oh Nô, sabes que é complicado. Os pais ficaram muito abalados quando souberam que estavas grávida, ainda por cima nunca conheceram o teu namorado nem pai do teu filho …

            - Filhos . – Disse Leonor interrompendo.

            - Ah?!

            - Tive gémeos, uma menina e um menino, o Tomás e a Filipa.

            - Não fazia ideia, mas fico muito feliz. E quero muito conhece-los.

            - Claro. Sábado eles fazem anos e como eles ainda não são batizados estou a pensar fazer também isso no sábado. Uma coisa pequena, só para os mais chegados. Claro que tu estás convidada.

            - Posso levar o Rúben comigo? – Leonor que naquela altura bebia um golo da sua bebida engasgou-se. Teria ela o direito de recusar por não querer estar no mesmo espaço que o homem que tem o seu coração e ainda vê-lo abraçado à sua irmã ? Não, ela não tinha esse direito.

            - Claro que podes. Eu depois dou-te mais detalhes quando tiver tudo tratado.

            - Vais … vais convidar os pais? – Perguntou Sofia um pouco a medo.

            - Não! – Respondeu prontamente Leonor.

            - Vá lá, vens comigo lá a casa e falas com eles … não digas já que não, faz isso por mim, sabes que não me posso enervar. – Ao mesmo tempo que falava Sofia levou a mão à sua barriga e sorriu. Leonor sentiu-se mal ao ver aquilo, pois aquele filho que a sua irmã transportava era também filho do homem que amava.

            - Está bem, eu vou contigo lá a casa mas não prometo que os vá convidar e se começarem a mandar boquinhas eu venho-me embora.

            - Combinado. – Sofia estava radiante. Ela era uma pessoa genuína e adorava que todos estivessem bem. O que ela mais desejava era que a sua irmã e os seus pais fizessem as pazes.

            O resto do almoço continuou com conversa do “dia-a-dia”. Acabaram e dividiram a conta.  Faziam isso desde que eram pequenas.

            - Vamos entao a casa dos pais? – Sofia perguntou de novo para confirmar que Leonor não tinha desistido da ideia.

            - Sim vamos. – Leonor não mostrava muita vontade de ir discutir mas de facto sentia muitas saudades dos seus pais. Contudo, sabia que não ia correr bem. Ela e o pai tinham um feitio muito parecido e apesar de gostarem imenso um do outro estavam sempre a chocar.

            Começaram a caminhar para o carro de Leonor pois Sofia tinha vindo de boleia com uma amiga.

            - Sofia, eu queria te perguntar uma coisa… - Sofia sentiu receio. Não sabia se Leonor iria aceitar o que ela lhe iria pedir.

            - Podes perguntar claro. – Respondeu Leonor sorrindo, sem nunca imaginar o que viria dali.

            - Eu e o Rúben estivemos a falar e combinamos que ele escolhia o padrinho e eu escolhia a madrinha do nosso filho. Eu não precisei de pensar muito para saber quem queria que fosse a madrinha do meu bebé.

            - Ah, se tens receio que eu fique chateada por não ser eu acredita que não fico, vou ser tia na mesma. – Leonor não queria ser madrinha … não daquele bebé. Já lhe iria custar ser tia, então madrinha era de mais.

            - Tu não percebes-te Nô, eu quero que sejas TU a madrinha do meu filho. – Leonor parou e fixou o seu olhar no chão. As primeiras lágrimas começaram a cair, o que responderia ela? Se por um lado, tinha a sua irmã a pedir para ser madrinha do seu filho, noutra altura e noutras condições ela não poderia ficar mais feliz do que receber este convite, aliás sempre falaram em ser madrinhas dos filhos uma da outra mas nestas condições o pai daquele bebé era o homem que tinha o coração de Leonor, era aquele que era capaz de a fazer sorrir com um simples olhar, capaz de a fazer levitar com um simples sorriso ou com apenas um abraço faze-la sentir-se segura. Já seria demasiado doloroso ser tia do filho do Ruben, mas madrinha? Madrinha era de mais, implicava uma maior presença na vida do bebe e consequentemente uma maior presença na vida do Rúben. Implicaria ter de o ver no dia-a-dia a dar aquele ser aquilo que nunca deu nem a Filipa nem ao Tomas, implicaria vê-lo a dar a Sofia aquilo que nunca lhe deu a ela … implicaria perceber que de facto ele seguiu em frente … sem ela.

            - Sofia, há uma coisa … uma coisa que precisas de saber!




✓ Que irá responder Leonor?
✓ Como correrá em casa dos pais das irmãs?
✓ e a conversa entre Rúben e Mauro? Irá desabafar Rúben sobre como se está realmente a sentir?
✓ E Catarina e Javi, quando irão falar novamente? Estará Catarina a começar a admitir que precisa de ajuda?




Guapas, aqui fica mais um capitulo, gostava que todas dessem a vossa opinião!  Um simples "gostei" ou um simples "não gostei" é suficiente e podem sempre carregar nas reacções que também é rápido (;
Espero que tenham gostado do capitulo, muitas coisas ainda irão acontecer!
Beijinhos

Nii'i 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Enlaces do Passado - 16º Capitulo - " Amo-te e sempre te amarei ... " ( Parte II )





            Depois de Leonor sair Rúben deixou-se escorregar pela parede da cozinha até sentir o chão frio causado pela tijoleira preta que ele albergava. Sentia-se sozinho, sentia-se abandonado de novo. Sentia que deixou a Leonor fugir novamente, mas desta vez fugiu mesmo por entre os seus dedos. Mas ele nada podia fazer, isso era um facto.

            Ser pai … nem isso lhe parecia tão mau como perder a única razão do seu sorrir. Imaginava-se a ter filhos com a Leonor, a vê-la com aquela barriguinha tão fofa que sempre falaram noutros tempos, tempos esses em que reinava a felicidade e a amizade. Esse era o seu sonho, construir uma família com aquela que lhe completava não só o coração como também a alma.

            Mas agora, agora isso não era possível. Tinha na sala uma mulher que dentro de si transportava um filho seu, não um filho feito com amor, pois isso ele somente conseguia fazer com Leonor, mas não deixava de ser um filho, o seu filho. Pensou nas palavras que Leonor lhe dissera antes de sair, não só de sua casa, mas certamente de sua vida, “Rúben, entende que eu sei como é criar filhos sem ter o pai por perto e não quero que a Sofia passe pelo mesmo. Aquele bebé merece ter um pai presente, a Sofia merece que o pai do filho esteja presente.” Ela tinha razão, aquele ser que daqui a algum tempo poderia proteger com os seus braços não tinha culpa do seu erro, teria de protege-lo, acaricia-lo mas acima de tudo ama-lo.

            Levantou-se, limpou as gotas de tristeza que se faziam sentir na sua cara, ajeitou a roupa, deu um último e profundo suspiro e sorriu. Sorriu ao lembrar-se que apesar de não voltar a ter Leonor, desta vez ia ser diferente. Desta vez ele podia vê-a. Sim, ele vê-la-ia. Afinal ela ia ser sua … não, não ia ser sua cunhada pois Rúben não tencionava casar com Sofia, não poderia engana-la de novo. Leonor iria ser a tia do seu filho mas acima de tudo iria ser sempre a única que lhe roubou o coração, a única capaz de o fazer amar. “Eu amo-te, vou sempre amar-te, és parte de mim… “, dissera-lhe Leonor aquela tarde, bem, Rúben poderia subscrever na integra aquelas palavras e devolve-las exatamente intactas, a quem, minutos antes lhas dissera.

            Ao entrar na sala, Rúben deparou-se com Sofia sentada exatamente no mesmo lugar, serena, era isso que ela lhe parecia. Olhou para a sua barriga. A sua gravidez ainda não era notada, certamente seria recente. Aí se fez o click na cabeça de Rúben. Ele deixou de ver Sofia á cerca de 2 meses, talvez seja este o motivo. Adiantou-se na sala, ficando assim percetível na periferia de Sofia. Assim que se apercebeu daquele figura masculina ao seu lado, Sofia rodou a cara e sorriu-lhe. Um sorriso triste.

            - Sofia, acho que … acho que temos de falar certo? – Atirou Rúben sentando-se na extremidade do sofá oposta á qual se encontrava Sofia.

            - Sim, acho que sim. – Suspirou. – Rúben, eu sei que isto não é planeado, acredita que eu não queria ser mãe, muito menos agora. Mas aconteceu e eu não vou abortar. Não vou impedir este ser, que já amo, de viver só porque nós os dois fomos irresponsáveis. Se não quiseres assumir a paternidade , não te vou obrigar mas achei que era teu direito saber que tens um filho. – Rúben percebeu que Sofia estava a ser sincera, de facto, ele próprio sabia que a culpa foi dos dois, foi uma irresponsabilidade que ambos noutra hora haviam tido.

            - Não, - Disse de imediato Rúben. – Eu quero assumir essa criança. Afinal, é meu filho. Mas Sofia, entre nós … - Ela interrompeu-o.

            - Eu sei que tu nunca me amas-te, mas tu estas solteiro certo? – Rúben demora algum tempo a responder à pergunta imposta por Sofia. Sim, ele estava solteiro mas apenas fisicamente. O seu coração, oh esse … esse pertenceria sempre a Leonor. Mas ela deixou bem claro que não ia haver nada entre eles. No fundo ele entendi-a, por muito que lhe custasse Rúben dava-lhe razão, afinal, Sofia era sua irmã e conhecendo a Leonor como conhece ela nunca iria trair um amigo, quando mais uma irmã. E sim, Leonor considerava isso uma traição.

            - Sim … estou … solteiro. – Respondeu Rúben a muito custo, precisando mesmo de respirar a cada palavra que dizia.

            - Eu também estou. Acho que … - Sofia tentava encontrar as palavras certas para expressar aquilo que lhe queria dizer. - … que podemos tentar.

            - Sofia … - Rúben tentava em vão interrompe-la.

            - Deixa-me explicar Ruben. Eu não te peço que me ames, apenas peço que tentemos… sei lá, tentemos por este ser que carrego na minha barriga – Sofia levou as mãos á sua barriga e Rúben seguiu-lhe o gesto com o olhar. – tentamos pelo nosso filho. Eu não quero que o meu filho nasça com os pais separados. Tu sabes o que custa isso não sabes? – Sofia sabia que tinha usado um golpe baixo ao falar da separação dos pais de Rúben, sabia o quanto esse assunto lhe custava. Por seu lado Rúben sentiu-se tocado com o que Sofia dissera. Sim de facto sabia o que custava ter os pais separados, sabia o que doía chegar a casa e não puder contar aos dois como foi o seu dia, ou não estar com o pai no dia dele, acima de tudo Rúben sabia pelo que tinha passado e não queria que o seu filho passasse pelo mesmo. E se … e se tentasse? Se tentasse formar uma família com Sofia? Ficaria Leonor desiludida com ele? Tinha sido ela a pedir-lhe que fizesse isso. Mas se Leonor queria que ele e Sofia formassem uma família porque lhe tinha dito ela que o amava? Rúben tentava juntar todas as peças do puzzle inacabado deixado por Leonor para assim tomar uma decisão. Pensou e percebeu que todas as decisões que estava a pensar tomar tinham a Leonor como base, e apesar de a amar mais do que à sua própria vida, ele agora tinha de pensar naquele ser, naquele ser ao qual ele podia chamar de filho. De agora em diante, todas as suas decisões iriam ser a pensar no seu filho, que tinha de proteger e acima de tudo fazer feliz.

            - Sim, acho que pelo nosso filho podemos tentar. – Respondeu com o semblante pesado de culpa.

            Sofia levantou-se e ia-se a sentar no colo de Rúben mas ele impediu-a.

            - Sofia, podemos tentar, mas com calma sim? – Ela recuou e sentou-se ao seu lado.

            - Mas o teu filho está a pedir mimos do pai. – Sofia encostou a cabeça ao ombro de Rúben e ele, pela primeira vez, tocou na sua barriga e sentiu o seu filho. Ainda assim, ele só pensava uma coisa : “ Quem me dera que fosse a Leonor a estar aqui assim.”




***



        - Dá-me a mão, eu não te vou largar. Eu não te vou abandonar… - Javi olhou fixamente para Catarina. Ele não conseguia entender porque ela se achava uma pessoa feia, pior, porque ela estava a destruir a sua própria vida? –  Vamos? Confias em mim? – Catarina não lhe respondeu, apenas lhe deu a mão. Leonor confiava nele, ela dissera-lhe antes de ela sair naquela noite. Catarina iria tentar dar uma oportunidade a Javi. Ela sentia falta de ter amigos homens, de ouvir aquelas coisas estúpidas que só eles sabem dizer, ouvi-los a falar de futebol em 99 % das conversas, ouvi-los a serem “homens” no que toca a assuntos de amor … Catarina sentiu o seu corpo mingar assim que isso lhe surgiu na mente, ela não teria esse problema, ela não iria sofrer de amor… ela não era capaz de amar nem ninguém tinha a obrigação de amar uma pessoa como ela … ela simplesmente pensava que a amor era para quem o merecesse, e ela, não .

            - Estás linda …. – Sussurrou-lhe Javi, deixando-a visivelmente constrangida. Há demasiado tempo que ela não ouvia um rapaz a dizer-lhe o quão bonita estava … secalhar a culpa era dela que os afastava, mas Catarina era uma pessoa que aprendeu a defender-se dos seus sentimentos, aprendeu a isolar-se.

            Catarina sofre de uma anorexia nervosa e de uma bulimia nervosa.  São ambos distúrbios alimentares tendo como objetivo a perda de peso. Neste momento, Catarina é uma rapariga magra e extremamente bonita, mas a doença psicológica pelo qual foi enredada não lhe permite ver isso. Quando se olha ao espelho, ela vê uma pessoa gorda, uma pessoa feia, vê uma pessoa que ela não quer ser e é esse “fantasma” que a faz continuar a humilhar-se todos os dias mais um pouco, é esse “fantasma” que a faz afastar as pessoas do sexo oposto, é esse “fantasma” que a leva a discutir vezes e vezes sem conta com Leonor, que simplesmente não quer perder a sua melhor amiga, é esse “fantasma” que a fez perder a possibilidade de algum dia vir a ter filhos, é esse “fantasma” que não a deixa pedir ajuda e todos os dias a mata mais um pouco.

            - Não precisas de ser simpático … - Desabafou Catarina.

            - Eih – Disse-lhe Javi fazendo-a olhar para ele – Eu disse aquilo que penso. Não disse para te agradar. Nunca iria dizer nada que não pensasse só para ficar bem visto. Catarina, já te disse que podes confiar em mim, eu só quero ser teu amigo. – Ele sorriu e Catarina pela primeira vez em muitos anos reparou com pormenor no sorriso de um homem. “Que sorriso meu deus!” penso Catarina.  – Pensa em mim como … como uma mulher … isso, pensa em mim como um Javi mas no feminino. – Javi sabia que ela se sentia mais confortável estando com mulheres. Catarina riu-se perante a tolice dita por Javi, riu-se de maneira genuína como já não se lembrava de o fazer. Ela não entendia como é que Javi, aquele homem que conhecia á menos de 1 mês a conseguia fazer rir como … como ela fazia quando ela livre.

            - Não seja tolo. – Respondeu Catarina sorrindo e dando-lhe uma leve palmada na cabeça.

            - Queres saber uma coisa?

            - O quê?

            - Estás no meio de uma ponte, a razoáveis metros do chão e está escuro. – Ela estremeceu quando ele enomerou alguns dos seus maiores medos. – Aliás, estamos aqui desde que começamos realmente a conversar e tu nem tinhas notado. – Ele sorriu mas Catarina depressa de chegou para ele agarrando-lhe o braço. Como era possível? Como era possível Javi faze-la abastrair-se assim do mundo? Pior, como podia ela permitir que isso acontecesse? Ela pensou em afastar-se dele mas os seus medos falar mais alto.

            - Podemos … podemos sair … daqui? – Pedia ela entre tremores na voz, sem nunca tirar a cara do Javi do peito do Javi. Diz o solene ditado português “olhos que não veem, coração que não sente “, e de facto catarina estava a guiar-se por isso. Se não olhasse para o sítio onde estava poderia pensar que aquilo não passaria de um enorme pesadelo.

            Javi passou-lhe o braço por cima dos ombros de Catarina como se a quisesse proteger. Ele havia jurado á alguns anos atras que não iria permitir que alguém de quem ele gostasse voltasse a morrer por causa de problemas psicológicos. E, sem ele próprio saber muito bem como, ele já gostava de Catarina, via-a como a irmã mais nova que ele nunca tivera.

            Chegaram ao final da ponte e Catarina continuava exatamente da mesma maneira. Javi aproveitou e guiou-os até ao restaurante onde iam jantar. Era perto, demasiado perto e isso para Javi iria significar ter de se “separar” de Catarina.

            - Já estamos à porta do restaurante, guapa. – Explicou Javi a Catarina. Ela muito lentamente levantou a cabeça e somente depois abriu os olhos. Devagar, muito devagar. Catarina queria se certificar que estava de facto em terra firme. Ela ainda não podia afirmar confiar em Javi, isso só com o tempo seria possível, isto é, se Javi conseguisse superar todas as barreiras e obstáculos que Catarina iria colocar no caminho deles, mesmo que por vezes o fizesse inconscientemente. – Vamos jantar?

            - Claro, não foi para isso que viemos?  - Catarina falou de forma fria. Javi estranhou, pois nunca a tinha visto ser assim e isso era o oposto do que era fora até agora e do que ele costuma ser com os meninos. Decidiu não dizer anda, pensou que poderia ser do susto da ponte.

            Entraram no restaurante e Javi fez questão de seguir a frente para lhe indicar a mesa. Sempre que Javi jantava naquele restaurante a mesa que ele escolhia na reserva era sempre aquela, pois aquela mesa tinha uma visão privilegiada sobre o rio.

            Javi puxou-lhe a cadeira e Catarina achou, que de facto “encontros” não era para ela. Ainda assim, ela sentou-se e assentiu com a cabeça como que agradecendo a Javi pelo gesto.

            O empregado dirigiu-se à mesa deles e eles pediram. Javi pediu um bife com batatas fritas e uma coca-cola, ele sabia que nem sempre podia comer este tipo de alimentos mas hoje era um dia especial, pelo menos era isso que ele queria acreditar. Quando a Catarina, essa ficou-se por uma salada de frango e por uma água natural.

            - Então, fala-me de ti. – Sugeriu Javi de modo a acabar com o intenso e incomodável silêncio que se fazia sentir há já largos minutos entre eles. Passaram o jantar todo só com conversas de banalidade e estavam agora na sobremesa.

            - Bem … - Começou por dizer Catarina um pouco nervosa. Custava-lhe falar sobre ela, sentia que se expunha e isso tornava-a mais fraca. – Não há muito a dizer. Sou de Braga, tenho 20 anos. Conheço a Leonor desde que ela foi para Braga, ou seja, desde os meus 17 anos. Ficamos melhores amigas e acompanhei sempre o crescimento dos meninos. – Instintivamente Catarina sorriu ao falar do Tomás e da Filipa. Eles eram sem dúvida das coisas da vida que mais forças lhe davam. Ela amava-os como se fossem seus filhos. Sim, ela permitia ama-los pois sabia que eles a amavam e que nunca, nunca a iam desiludir e muito menos abandonar. – E tu? Fala-me de ti. – Aquilo saiu-lhe sem que ela pudesse muito bem pensar no que dizia. Para que quereria ela saber mais a respeito de Javi? Eram…amigos, não, nem amigos ainda eram. Mas a verdade é que Catarina queria saber mais coisas sobre Javi, queria saber muitas coisas e isso assustava-a.

            - Bem, chamo-me Javier, tenho 24 anos e nasci em Espanha. Vir para o Benfica foi a melhro decisão da minha vida.

            - E és feliz aqui em Lisboa? – Catarina decidiu soltar-se um pouco e perguntar o que queria saber sobre Javi.

             - Sim sou. Tenho muitas saudades da minha família mas eles sempre que podem veem cá. – Javi olhou Catarina e atreveu-se a perguntar. – E a tu família? – Catarina endireitou-se na cadeira.

            - O que tem a minha família? – Disse num tom inesperado para Javi.

            - Desculpa – pediu com sinceridade – não te queria fazer chatear mas nunca falas deles.

            - A minha família está morta. – Javi arregalou os olhos não só por ter ouvido o que ouviu mas pela forma como o olhar da Catarina transpunha aquilo que lhe ia na alma.

            - Morta? Mas morta como? – Ok. Depois de dizer alto Javi teve noção que a pergunta foi muito despropositada mas mesmo assim Catarina respondeu-lhe.

            - Morta… Enterrada… Eu não tenho família. A minha família morreu para mim no dia em que decidiu internar-me. – Assim que acabou de falar, Catarina levantou-se e saiu do restaurante. Sentou-se num banco de Jardim em frente ao restaurante virado para o rio.

            Javi apressou-se a ir pagar a conta e ir ao encontro de Catarina. Ele tinha mantido a calma, tocou num assunto que também mexia come ele para ver se a ajudava mas ela tinha pesados dos limites. Para Javi, ela não sabia o quão grata devia estar á sua família por a ter tentado ajudar, não sabia o quantos outras pessoas gostariam te ter ajudado familiares quando eles precisavam. Ela estava a ser tão mas tão injusta que Javi assim que a viu disse tudo o qeu sentia naquele momento.

            - Tu não sabes a sorte que tens. – Catarina sobressaltou-se com a voz de Javi. Ele falava muito alto, Catarina atrevia-se mesmo a dizer que ele lhe berrava. – Tu não sabes o quão grata devias estar á tua família. Ela apercebeu-se a tempo do teu problema… - Javi parou para respirar.  - … outras pessoas não podem dizer quem tiveram a mesma sorte.

            - Que… que queres dizer… com isso? – Pergntou Catarina entre soluços. Ela chorava. Catarina era uma pessoa que se emocionava facilmente e detestava quando berravam com ela. Ela detestava discussões.

            - Que quero dizer com isso? – Javi riu-se. – Quero dizer que perdi uma pessoa que amava mais que há minha vida por não ter percebi a tempo que ela tinha um problema… - Suspirou. Também Lágrimas caiam pela face de Javi ao lembrar-se desse episódio. - … uma problema psicológico. E tu, tu que tens montes de gente a querer te ajudar quando ainda é tempo, ignoras todas a gente e não assumes que precisas de ajuda, que ÉS DOENTE.  – Catarina recuou até ao muro que a separava do rio e deixou-se cair, perdeu as forças, sentiu-se a deixar de ver as coisas … ouviu muito ao longe a voz de Javi chamar por ela mas sentiu que era tarde de mais. Finalmente sentiu que estaria livre… estaria livre daquela luta diária que travava com a sua mente.


Será que Rúben e Sofia conseguiram realmente ser uma família?
E Leonor, ficará bem quando souber?
O que terá acontecido à Catarina?
E por que passado, ainda bem presente, se culpa Javi?




Olá guapas (;
Aqui está mais um capitulo, peço-vos que comentem pois é mesmo muito importante a vossa opinião (;
Quero ainda agradecer ás meninas que me tem apoiado em vários sentidos, Ana Santos, à Diana Ferreira e à Rita Carvalho.
Quero também deixar o meu muito obrigada às meninas que comentaram o último capitulo Ana Santos,à Diana Ferreira,  à Rita Carvalho, à Rita Martins, à Jessica  Filipa ,à Mary e ao anónimo que nao sei o nome xd muito obrigada pelos vossos comentários, são muito importantes (;
Beijinhos

Nii'i